Apesar dos gráficos realistas existentes, muitos jogos em vetor continuam fazendo sucesso. Mas qual o apelo desses jogos junto ao público?
Os games da última geração tem gráficos cada vez mais realísticos, enquanto os consoles acompanham essa tendência, oferecendo óculos de realidade virtual e resolução 4K. Tudo para tornar a imersão no universo gamer ainda mais realística. Contudo, uma fatia do mercado de jogos digitais ainda se dedica a desenvolver games em vetor e 8-bit
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O iG conversou com game designers a fim de descobrir qual o apelo que esse tipo de traço em vetor ainda tem junto ao público, e porque cada vez mais profissionais da área têm se dedicado a desenvolver games indie para essa fatia do mercado.
Nostalgia
Marcos Plank, estudante de computação gráfica, acredita que isso se deve ao forte sentimento de nostalgia que acompanha a atual geração de gamers e, ao ver um jogo que os lembra daqueles jogados em sua infância, cria-se empatia. "A maior parte do público-alvo é o pessoal dos anos 80/90 que foi quando bombou os jogos em pixels, 8-bit. Muitos desses jogadores se sentem atraídos ao visual do jogo por isso", explicou Plank.
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Produção
Já quando a questão é a indústria de produção desses games - em sua maioria, produzidos por artistas independentes ou startups -, o jovem acredita que a ascensão desse mercado se deve ao fato de que esse tipo de traço é mais acessível. E, de acordo com o game designer Allan Chaves, ele está certo.
"Acredito que seja pela acessibilidade e configuração básica. Você não precisa ter um PC ou console de linha pra jogá-los. É mais ou menos o que rola com jogos em pixel como Undertale, que é feito no RPG Maker e roda em qualquer lugar", afirma. Ele também aponta a nostalgia como ponto fundamental para o crescimento dos games indie vetoriais, como vem acontecendo nos últimos anos.
Mas Chaves também aponta outro motivo para isso: a vontade do artista de estar no mercado e não conseguir passar nos crivos de grandes estúdios. Ele próprio já participou de inúmeros testes para uma grande produtora, mas seus traços nunca foram o suficiente. Então, ele decidiu se lançar no mercado de forma independente, onde tem mais liberdade para trabalhar seu traço da maneira que deseja.
Felipe Borba, outro game designer, acredita que, isso se deve, além da nostalgia, ao fato de que esses traços mais simples e limpos carregam consigo uma inôcencia, uma forma de remeter aos jogos do passado em uma abordagem mais moderna, uma necessidade para alguns títulos. "Não consigo imaginar por exemplo o game The Journey com um gráfico realista. Isso pareceria que tiraria um pouco da inocência e pureza do game", afirma.
Por fim, ele também faz uma crítica aos games das grandes desenvolvedoras: a ausência de narrativa nos conteúdos. "Vale muito mais a pena pagar por um bom indie, a jogar games de grandes produtoras que focam demais em gráficos (o que impossibilita muitos de jogarem), e também esquecem o que todos buscam: jogabilidades interessantes e enredos bem elaborados". Para ele, a construção de personagens cativantes e histórias bem amarradas também seria um motivo que estimula os profissionais independentes nessa área, que alimentam a maior parte do mercado de games com traços menos rebuscados.
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De fato, alguns motivos são inegáveis: menor custo de equipamento para produção de jogos em vetor, artistas que desejam se lançar como game designers em suas próprias startups, questão de gosto e, principalmente, a nostalgia propiciada pelos gráficos que fazem lembrar as tardes no fliperama e os consoles de cartucho da infância.