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É notável que jogos educativos tenham esse papel de trazer aprendizado, mas será que é possível um jogo de mero entretenimento ensinar algo?

Se você já jogou Call of Duty e God of War deve ter descoberto algumas curiosidades sobre a Segunda Guerra Mundial e mitologia grega que, provavelmente, passaram batidos durante a escola. Afinal, não é todo mundo que se prende às aulas de história e têm interesse em comprar livros sobre os assuntos para aprender, não é verdade?

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"SimCity, Carmen San Diego, Minecraft, Kiduca e até os mais polêmicos God of War e World of Warcraft podem ter a combinação divertir e aprender", diz Proença



A partir desse insight o designer e teórico de jogos, James Portnow, desenvolveu o conceito de “aprendizado tangencial”, em que afirma ser possível - por meio dos games – despertar interesse por algum assunto. A descoberta e a curiosidade segundo Portnow podem levar o jogador a estudar e aprender de forma autônoma sobre o tema.

Aprender é apenas uma das possibilidades de quem gosta de games. Deixar de ser sedentário tem sido possível com a ajuda de títulos como o Just Dance e Wii Sports. Nesses jogos os usuários estão em constante movimento, assim como o Pokémon GO, que tem levado milhares de jovens a parques e demais locais para caçar os monstrinhos virtuais.

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De acordo com o sócio fundador e presidente da SINGOL Games Educacionais, Jorge Proença, não só os itens citados são possíveis de serem aproveitados a partir de uma experiência com games, a parte cognitiva e habilidades socioemocionais também podem ser frutos dessas experiências.

O aprendizado proposto pelos jogos educativos, segundo Proença, é trabalhado por meio da motivação e do engajamento do jogador. Fazer com que o usuário passe por diversas fases durante o jogo, ganhe prêmios e vença desafios são alguns dos elementos que elevam o aproveitamento dessas plataformas de aprendizado. 

Na opinião de Portnow esse engajamento proposto pelos jogos educativos não funciona muito bem, uma vez que em seu conceito de aprendizado tangencial só será aprendido o que despertar interesse pessoal. Para ele, jogos educativos não funcionam de maneira eficaz, pois antes de tudo, priorizam o aprendizado e não a diversão. 

O presidente da SINGOL não discorda do conceito de educação tangencial de Portnow. Para ele os jogos educativos devem ter os mesmos recursos dos games tradicionais.  "Apenas os jogos educativos desenvolvidos com os mesmos recursos e estratégias dos jogos convencionais podem trazer resultados fantásticos ao jogador”, declara.

James Portnow participou do desenvolvimento de Call of Duty
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James Portnow participou do desenvolvimento de Call of Duty

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Exemplo

Vinicius Pereira, 21, é estudante de psicologia e tem contato com jogos desde criança, e garante que, além do desenvolvimento de raciocino lógico, também aprendeu a falar inglês. “O aprendizado de um novo idioma em uma época em que os jogos não tinham versões em português aconteceu por intermédio de RPGs de turno como Chrono Trigger, que possuem muitos textos”, afirma.

Noções de estratégia também foram desenvolvidas pelo estudante em metagames - método utilizado em jogos com base em um conjunto de regras estabelecidas. Essa modalidade, segundo Pereira, permitiu que em seu dia a dia, antes de resolver qualquer conflito, ele entendesse como essencial a busca por informações, para que tudo seja resolvido da melhor maneira possível.

De acordo com os todos os pontos de vista já expressados, fica claro que os games são muito mais do que um simples entretenimento. Todavia, ainda existe um estigma sobre os jogos e os jogadores por parte da sociedade leiga. Segundo Arthur Protasio, responsável pelo artigo "Games e Liberdade de Expressão" , por essas pessoas "leigas" não partilharem da mesma realidade desses jogadores, muitos não acreditam na possibilidade do aprendizado. Para essa parcela da população os games são voltados apenas para o público infantil e o jovem adulto que se interessa por esse conteúdo perde tempo. 

A boa notícia é que esses estereótipos podem estar com os dias contados. De acordo com presidente da SINGOL Games Educacionais, Jorge Proença,  o jogo digital vai ocupar um espaço muito importante num futuro próximo como alternativa e complemento às mídias atuais (TV, jornal, redes sociais, etc.). Para ele, apenas o game é capaz de inteirar, reconhecer, divertir e ainda propiciar o aprender.

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