"F1 2016" é imperdível para fãs de automobilismo

Disponível para PC, PS4 e Xbox One, "F1 2016" impressiona pela fidelidade. Confira nossa análise deste lançamento para amantes do automobilismo
Foto: Divulgação/Codemasters
Esqueça o jogo do ano passado. F1 2016 corrige todos os defeitos e é um dos melhores games já feitos usando a licença da Fórmula 1.

Foram horas e horas até chegar aqui, na última volta do Grande Prêmio de Melbourne da F1 2016. Após três períodos de treino, me sentia preparado para conseguir uma boa posição correndo pela Renault. Só tinha que terminar em 16º que minha equipe ficaria feliz com o resultado. Brigava pela 14ª posição com Sergio Pérez, roda a roda, curva a curva. Perto da reta final, o pneu do Perez estorou, encerrando a disputa. Não recebi pontos por estar abaixo da 10ª colocação, mas não importava. Era meu primeiro passo na carreira, acima das expectativas.

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Esse é o clima que encontramos em " F1 2016" , o novo jogo da franquia que chega para PC, PlayStation 4 e Xbox One. Após um ano mais apagado com o decepcionante "F1 2015", a Codemasters mostra que entende de automobilismo e sabe o que os fãs querem, conseguindo agradar tanto o jogador casual que vai jogar com todos os auxílios ligados, quanto o hardcore que gastou uma fortuna para montar uma cabine com volante e três telas para aproveitar ao máximo.

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Mais próximo dos games de esporte do que de outros simuladores, o F1 2016 apresenta poucos modos de jogo. Temos a opção de Time Trial, onde podemos dar voltas nas pistas vazias para marcar tempos, que entram para um ranking mundial. Se quiser aproveitar uma corrida, vá para o Quick Race e escolha o circuito. É o modo Carrer e o Multiplayer que irão prender sua atenção por muito tempo.

A maior falha do "F1 2015" foi a ausência do modo carreira mais robusto – apenas escolhíamos um piloto existente e completávamos temporadas. Talvez tenha sido melhor assim, para que tivessem tempo para desenvolver o ótimo sistema do "F1 2016", com um piloto feito pelo jogador e que terá que provar suas habilidades ao longo de 10 temporadas. As opções de criação não são muitas e ficaram devendo avatares femininos. A brincadeira começa mesmo logo em seguida.

Foto: Nicolas Tavares/iG Carros
Cada time tem uma expectativa. Ferrari e Mercedes não querem nada menos que o campeonato, enquanto as 'nanicas' como Sauber e Manor desejam vencer em quatro anos.

Criado o personagem, vem o momento de escolher a equipe. Cada time tem seu objetivo para a temporada, de acordo com sua capacidade. As menores, como Manor e Sauber, querem sair do fundo do pelotão e começar a pontuar. Force Índia, Williams e as outras intermediárias brigam para chegar mais perto do pódio. Se escolher Ferrari, Red Bull ou Mercedes, a meta é simples e clara: vença o campeonato.

Vida de piloto

Não é um game fácil, exigindo dedicação do jogador. Estamos falando da principal categoria do automobilismo, não podemos esperar por carros mansos. Antes mesmo de começar, precisamos nos ajustar com a rotina dos pilotos profissionais: aproveitar cada treino livre para se acostumar com a pista e descobrir o melhor ajuste, tentar fazer bons tempos e ser consistente. Nos jogos anteriores, isso podia ser entediante.

Foto: Nicolas Tavares/iG Carros
As missões de treino ajudam a decorar a pista, melhorar a sua habilidade e rende pontos para deixar o carro mais rápido - além de divertir muito mais.

Felizmente, encontraram uma boa solução, que reflete um pouco a forma como as equipes desenvolvem seus carros a cada temporada. Cada vez que corremos, ganhamos pontos de desenvolvimento, a serem gastos para melhorar um aspecto do monoposto. Há três formas de ganhar esses pontos: voltas completadas nos treinos, terminar uma corrida, ou cumprir o regime de treino da equipe. Essas missões ajudam os novatos a se acostumarem com aspectos da F1, como conhecer o traçado de uma pista ou economizar pneus. Uma ideia simples, mas que dá uma sensação de que estamos evoluindo a cada etapa.

Aprender o traçado de cada pista é muito importante. Ao contrário dos outros jogos, que usam carros de rua, os bólidos de F1 2016 não são simples de guiar e demandam um controle mais refinado por parte do jogador. Acelerar com o pé embaixo sempre resulta em perda de tração e seu carro indo de frente para o muro de proteção. Frear demais vai travar as rodas e te impedir de virar. É preciso aprender a dosar, tanto nos pedais quanto no volante.

Não é impossível de jogar no controle, muito pelo contrário. É bem mais acessível do que alguns games como Project Cars e Assetto Corsa, exigindo apenas um pouco de treino para acostumar. No entanto, há um problema chato para fazer curvas consecutivas: o volante para no meio por alguns momentos antes de virar para o lado contrário, o que afeta a habilidade de contraesterçar e dificulta as curvas em S. É possível reduzir esse defeito com um ajuste nos controles, mas o ideal é que a Codemasters lance um patch de correção.

Os anos de prática da Codemasters com a franquia permitiram que criassem uma física bem próxima dos carros reais. Poderia ser um problema para os jogadores mais descompromissados, se não fosse pela inclusão de vários auxílios. Temos controle de tração, freios ABS para não travar as rodas, linha de corrida que mostra o melhor traçado e quando frear, tudo para deixar a experiência mais fácil. Como todo jogo da empresa, conta também com o sistema de Instant Replay, que permite recuar o tempo por alguns segundos, para corrigir algum erro.

Foto: Nicolas Tavares/iG São Paulo
O modo Pro Career é só para os fortes: Imagine encarar a famosa Eau Rouge de Spa-Francorchamps sem nenhum auxílio, com a visão de dentro do cockpit e sem dados na tela.

 Um bom volante só se mostra necessário caso queira encarar o modo Pro Career, uma releitura do Pro Season do F1 2015. Nele, todos os auxílios como controle de tração e freios ABS são desativados, a câmera é fixada na visão do piloto, as informações somem da tela, a dificuldade fica no máximo e todas as corridas são completas, com três treinos livres de 30 minutos, três treinos classificatórios e a mesma quantidade de voltas que a corrida de verdade.

Gentlemen, start your engines

Aos poucos, os jogos da Fórmula 1 vão se aproximando cada vez mais da experiência real. Depois de fazer todos os treinos e a classificação, chega a vez da corrida. Uma das novidades é a possibilidade de fazer a volta de aquecimento, momento em que os pilotos fazem aqueles zigue-zagues na pista, para deixar os pneus e os freios na temperatura ideal – aumentando sua eficiência. Não é obrigatório, mas é uma adição bem bacana.

Foto: Nicolas Tavares/iG São Paulo
Deixar a largada na mão do jogador deixa o início da corrida muito mais emocionante. Basta um acerto ou um erro para definir toda a prova.

Melhor ainda é a opção de fazer largadas manualmente, segurando a embreagem enquanto aumentamos a rotação do motor até o ponto ideal. Solte a embreagem antes e levará uma punição por queimar largada. Os outros carros, controlados pelo computador, trabalham do mesmo jeito, criando uma variação em sua habilidade de largar. Acompanhado de uma revisão na inteligência artificial, isso faz com que as disputas na primeira curva lembrem muito a de uma corrida real.

O jogo está mais esperto, acompanhando seu desempenho durante a corrida. O engenheiro começa a oferecer mudanças de estratégia baseado nessas avaliações em tempo real, que irão determinar quando irá fazer a troca de pneus ou o uso de uma mistura diferente de combustível. Tudo é resolvido rapidamente com alguns toques de botões, ideal para fazer em uma reta sem perder a concentração.

Alguns itens ainda deixam a desejar. Enquanto o modelo de dano é bom, poderiam deixar os pedaços de carro na pista por mais tempo, criando riscos reais de acidentes consecutivos. As rivalidades ainda não atingiram o ponto ideal. Podemos escolher um adversário, mas não há recompensas ao vencer ou perder, além de que essa rivalidade só aparece em uma janela pós-corrida. É possível que não possam criar certas situações por alguma cláusula no contrato que não manche a imagem dos pilotos, mas ainda assim cabia alguma recompensa, como pontos de desenvolvimento extras.

As disputas online são bem completas, com a inclusão de um modo de temporada, permitindo escolher um dos 22 pilotos do grid e participar de um campeonato inteiro contra outros jogadores. Faltou trazerem de volta a opção do modo campanha cooperativo, que foi o grande destaque do "F1 2014".

Belos carros, péssimos pilotos

A qualidade gráfica do "F1 2016" é uma leve evolução do jogo do ano passado. Entre PS4 e Xbox One, o console da Sony tem uma leve vantagem por rodar em 1080p nativos, enquanto o Xbox usa 1440x1080p. Essa diferença só fica aparente em imagens mais claras. No PC, o gráfico fica mais refinado, principalmente nos reflexos e sombras. No geral, os três conseguem agradar por sua beleza.

O que divide a escolha sobre qual versão comprar é a taxa de quadros por segundo. A Codemasters quis chegar a 60fps, algo que só conseguem manter em um PC, o único capaz de rodar o tempo todo nessa velocidade. O PS4 chega perto dos 60 quadros, mas com constantes quedas, chegando a 48fps em pistas com cenário mais complexo, como Mônaco. A situação é bem pior no Xbox One, que fica muito mais tempo na casa dos 50fps, reduzindo até 44fps dependendo das condições.

Tudo o que envolve objetos é muito bem detalhado. Os carros tem um nível de detalhe impressionante, desde o design aerodinâmico até as laterais dos pneus. Os pneus ficam visualmente sujos quando passamos pela terra ou pela grama. É tão bem feito que é possível ver a sujeira se desprendendo dos pneus aos poucos.

Foto: Nicolas Tavares/iG Carros
F1 2016 conta com cada circuito representado com fidelidade. Fica melhor ainda quando aceleramos em uma pista que conhecemos bem, como Interlagos.

 Os cenários recriam perfeitamente cada uma das pistas, incluindo as mudanças vistas em cada uma desde o ano passado, como a nova pintura em Interlagos. Mais um pouco e poderíamos até ver os moradores do prédio que sempre aparece ao fundo da Subida dos Boxes, ou as modelos de bikini nos barcos na baía de Mônaco. Na chuva, podemos notar as poças que se formam, o traçado ficando mais seco e o reflexo do cenário na água.

Foto: Nicolas Tavares/iG Carros
Tudo é muito belo no jogo, exceto o modelo dos pilotos, que parecem da geração passada. Está na hora da Codemasters atualizar a EGO Engine para gerar humanos de qualidade

 Em compensação, tudo o que envolve pessoas é decepcionante. Os modelos dos pilotos e dos membros das equipes são ruins, com uma qualidade que poderíamos aceitar na geração passada dos consoles. A torcida move-se de forma mecânica e não transmite nenhuma empolgação, a ponto de não fazer diferença alguma para uma arquibancada completamente vazia.

Os sons são bem consistentes e fieis aos carros de verdade. Não há dublagem, apenas legendas em português, então temos que escutar os engenheiros dando instruções em inglês no rádio. Entre as corridas, ouvimos as vozes de David Croft e Anthony Davidson, narradores do canal inglês Sky Sports. Claro que faz falta poder ouvir um narrador brasileiro, mas é bem melhor ouvir os britânicos do que as bobagens de Galvão Bueno.

Veredicto

Foto: Divulgação/Codemasters
Ainda há muito espaço para melhorar, mas F1 2016 é uma grande evolução e mostra que a Codemasters sabe fazer games de corrida como poucos.

 Há tempos que a Codemasters não fazia um jogo da Fórmula 1 tão inovador quanto o "F1 2016". É um upgrade muito superior sobre o jogo do ano passado, principalmente pelo retorno do modo carreira. Tem muito terreno para melhorar, como os modelos humanos e alguns aspectos que deixem a vida de piloto mais agitada – afinal, o que é um piloto de F1 sem uma rivalidade bem acirrada. Se você tem algum interesse pela categoria, dificilmente vai se arrepender, pois é um dos melhores jogos da Fórmula 1 já criados.

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